Publicidade

sábado, 8 de junho de 2013

O Brasil e a questão Ambiental, por Marina Silva e Fernando Gabeira

A segunda conferência do Fronteiras do Pensamento, neste ano de 2013, foi com Marina Silva e Fernando Gabeira, em que debateram sobre "O Brasil e a questão Ambiental".
Começo sempre com algumas anotações que eu fiz durante a conferência, para,somente depois, postar o resumo enviado pelo Fronteiras do Pensamento a cada participante.
Gabeira:
- Em uma entrevista, na Dinamarca, Dilma disse o seguinte: "O meio ambiente é um obstáculo para o desenvolvimento". Diz ele que foi um ato-falho.
Em uma espécie de brincadeira,disse que no Brasil temos como ministro da energia, um Lobão, enquanto o Obama nomeia, para ministro, um prêmio Nobel de Física. (recebu muitos aplausos nesse momento).
Falou sobre mobilidade urbana, aquecimento global, transgênicos, direitos humanos, Geisel, Collor, FHC, Lula, Dilma, o "auge da revolução da Informática".
- Em Curitiba tem uma melhor comunicação com os moradores, que podem ser colaboradores e são georeferenciáveis ao aceitarem ser colaboradores.
(Como Gabeira falou mais do que os 20min previstos, Marina se mostrava impaciente com tal demora).
Ao concluir a sua fala, Gabeira diz, referindo-se ao cronômetro que marcava o tempo da fala: "Eu tenho a impressão que aquele relógio parou!".

Marina:
Falou sobre o mundo em crise, questões ambientais e políticas,  "Armagedon", temperatura, crise de valores, cosmovisão, política, ética, estética, energia solar, "atitude cínica e atitude clínica", mencionando Bauman.
- ...relação conosco, com o outro e formas de exist~encia (Bauman).
- Deve-se separar a ética da política, separar o que se diz do que se faz.... a saída a ser enfrentada por todos para enfrentar a crise civilizatória.
- Somos uma cultura do excesso.
-O homem saiu da idade da pedra não foi por falta de pedras. Agora temos de sair da era do petróleo, antes que acabe.

O resumo deste debate foi este (leia mais):




A sustentabilidade como modo de ser
Por Sonia Montaño
O Brasil e a questão ambiental foi o tema que reuniu, em um debate especial no palco do Fronteiras do Pensamento, dois dos principais ambientalistas brasileiros: a professora e historiadora Marina Silva e o escritor e jornalista Fernando Gabeira.
A noite, que iniciou ao som da flauta transversal de Leonardo Winter na saudação musical, trouxe dois pontos de vista complementares sobre a atual crise civilizacional que inclui economia, educação, questões ambientais e sociais.

O Brasil e a questão ambiental
Fernando Gabeira foi o primeiro a fazer uso da palavra, trazendo um pouco da história da posição dos diversos governos brasileiros diante da questão ambiental desde os governos militares. Ele lembrou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como ECO-92, ocorrida logo depois do período Sarney, durante o governo Collor. “Ali, o Brasil percebeu que não era o único que estava com problemas ambientais, e o tema aflorou na imprensa diariamente, o que fez aumentar a consciência ambiental da população”, explicou. Disse, ainda, que em 1992 os temas centrais da questão ambiental eram a camada de ozônio e as florestas. Da mesma forma, os africanos introduziram a questão da desertificação, e a própria Eco-92 viria revelar o aquecimento global como grande tema.
Gabeira descreveu diversos avanços alcançados ao longo da história do País, mas para ele, entretanto, o Brasil,
que ocupa um lugar de referência na questão como interlocutor de outros países, apresenta muitos problemas em seu cotidiano. “A posição brasileira não tem uma correspondência no Brasil. Nem sempre o que mostramos para fora é o que realmente somos.” Para Gabeira, o governo do PT se diferenciou no início por algumas lideranças que introduziram a preocupação com questões do ambiente. “Contudo, momentos mais decisivos, como o início do governo Lula, foram marcados por uma lógica da destruição da floresta e a liberação de soja transgênica sem prévia pesquisa.” Foi a presença de Marina Silva no Ministério de Meio Ambiente que fez avançar a questão ambiental brasileira, embora ela se chocasse com uma visão desenvolvimentista que a levou a sair não só do Ministério, mas também do partido. O governo atual não tem uma visão ambiental. “Obama nomeou como ministro de energia um prêmio Nobel da Física, e no Brasil é o Lobão, ou seja, é mais um espaço de troca política”, argumentou.
Gabeira destacou as respostas criativas que diversas cidades vão tendo diante de problemas como a mobilidade urbana ou empreendimentos sustentáveis de economia criativa. “O mundo mudou, estamos no auge de uma revolução da informática. É necessário que os governantes usem a inteligência coletiva. A população tem algo a dizer. Uma vez, escrevi que a grande cidade não tem solução, que devíamos migrar para o campo, mas hoje compreendo que as soluções para as cidades virão das próprias cidades”, concluiu.

Sustentabilidade e crise civilizacional
Marina Silva iniciou sua fala lembrando o início de sua militância, quando, aos 17 anos, junto a Chico Mendes, se preocupava com a floresta e outras questões, preocupação que Fernando Gabeira, na época, ajudou a chamar de “ecologia”. Em seguida, contextualizou a crise ambiental brasileira numa crise civilizacional. “A crise ambiental não é isolada. Nosso mundo está em profunda crise: crise econômica, em que há um crescimento baixo em todos os países do mundo; e crise social, pois 2 bilhões de seres humanos vivem com menos de 2 dólares por dia – isso traz problemas na saúde, na educação, de habitação, de vida digna, de entretenimento”, explicou. Ela disse que a crise ambiental tem vários aspectos e revelou como o maior de todos eles a questão das mudanças climáticas. “Tivemos a triste notícia, recentemente, de que já chegamos às 400 partículas por milhão de dióxido de carbono na atmosfera, o que pode ocasionar a elevação de temperatura, e isso pode comprometer o futuro da vida na Terra.” Ao cenário de crise acrescentou a crise política, em que a maioria das pessoas não se sente representada, e lembrou a frase escrita por jovens espanhóis que participavam de um protesto: “Nossos sonhos são maiores que as urnas de vocês”. Os movimentos no mundo inteiro denunciam a qualidade e a quantidade dessa representação.

Entre atitudes clínicas e cínicas
A ambientalista falou ainda da crise de valores, não num sentido moralista, e sim como um deslocamento da ética de valores para a ética de circunstâncias. Ela citou Bauman, ao falar sobre pensar as relações com os outros e as outras formas de vida a partir de uma “atitude cínica” ou de uma “atitude clínica”. A atitude clínica mede as consequências e decide não em função de tirar proveito. A atitude cínica não se importa com as consequências: “Vou tentar tirar vantagem a qualquer preço”. “Quando a Rio+20 decidiu adiar a formação de um mecanismo de governança para enfrentar os graves problemas ambientais que temos, com certeza não foi uma atitude clínica. Quando os especuladores do sistema financeiro nos levaram a uma crise econômica em 2008, não foi uma atitude clínica”, exemplificou a palestrante. A crise de valores é o que separa economia de ecologia, ética de política, aquilo que se diz daquilo que se faz. A isso tudo Marina chamou de crise civilizacional, crise que não temos conhecimento de como enfrentar. A saída não poderá vir de um partido ou de um setor só da sociedade, envolve toda a sociedade. “É possível pensar a ideia de sustentabilidade para além de um questionamento à nossa maneira errada de fazer as coisas. O questionamento deve ser profundo, repensar nossa maneira errada de ser.”
Lembrou, também, que por milhares de anos fomos orientados pelo ideal do ser e só nos últimos 400 anos nos orientamos ao ideal do ter, do consumir e do fazer. Devemos preservar as conquistas desejadas, mas reparar as perdas de biodiversidade. É preciso mudar o modelo de desenvolvimento. Um modelo pensado em todos os seus aspectos econômico, ambiental, político, ético, estético. Para Marina, não há suporte no mundo para as coisas que desejamos. “Se os 7 bilhões de habitantes quisessem ter carro, não há como fazer isso. Devemos mudar o desejar ter pelo desejar ser: ser mais criativo, ser mais erudito, ser o melhor jornalista, o melhor jogador de futebol”, disse. Essa desmaterialização do consumo pode nos ajudar a ter uma economia criativa. Devemos fazer um deslocamento do ter e do fazer, somos uma cultura do excesso, devemos nos conectar com a falta. “Ainda temos 16 milhões de pessoas vivendo na extrema pobreza, e isso é um problema ético, não técnico. Sustentabilidade é uma maneira de viver. Há 50 anos tínhamos mil vezes mais biodiversidade que agora.”

Uma mudança de paradigma
Como exemplo de que a sustentabilidade tem uma dimensão estética, Marina disse que poderia se propor transformar o Pão de Açúcar, aproveitando as obras da Copa, em estádio ou viaduto. Entretanto, nem os cariocas, nem os brasileiros, nem a humanidade como um todo iam deixar. “Tem coisas que devem ser preservadas não por um valor econômico, mas porque é constitutivo de nossa forma de ser, de nosso estar no mundo. Há uma dimensão da sustentabilidade que é estética, que é ética de valores e não de circunstâncias”, disse. Precisamos de políticas de longo prazo no lugar de políticas de curto prazo para alongar o prazo dos políticos na política. Isso tem a ver com a ética de valores.
A historiadora referiu ainda a necessidade de pensar as “fronteiras do pensamento”, onde elas estariam? Estariam no impensável, e o que é que seria o impensável? A morte. Não conseguimos pensar a nossa morte, menos ainda a morte da vida na Terra, que poderá vir a ocorrer porque algumas decisões das últimas centenas de anos nos encaminham para isso. “Como é que em pleno século 21, em plena crise civilizacional, no país de maior insolação do planeta, não temos nem um parágrafo sobre energia solar no Plano Nacional de Energia? A Alemanha tem 0,9 de energia de sol e está produzindo 20% de sua energia solar”, insistiu.
Marina concluiu que devemos nos preocupar com o meio ambiente em nosso próprio ambiente. “Se os gaúchos se preocuparem com a Amazônia e não se preocuparem com a geração de energia limpa aqui, se o pessoal da Amazônia ficar preocupado com a geração de energia limpa no sul, não seremos sustentáveis. Nós criamos a lógica de defender o meio ambiente no ambiente dos outros, e chegou a hora de defender o meio ambiente no nosso próprio ambiente”, disse Marina. Para ela, está surgindo um novo paradigma que sai da lógica do ter e do fazer, um paradigma que faz com que cada pessoa se sinta protagonista, responsável por um mundo melhor, e o Brasil é o país que reúne maiores condições para essa mudança. Um paradigma que leva a uma atitude clínica e não a uma atitude cínica.

Para iniciar o espaço reservado à perguntas, os conferencistas perguntaram um ao outro. Marina perguntou a Gabeira sua opinião sobre um novo paradigma que estaria emergindo de que o Brasil é o país que reúne as melhores condições para liderar essa mudança. Ele disse ser um tanto pessimista em relação a isso e não ver essa capacidade de o País liderar o mundo com um novo paradigma, pois, embora as condições naturais sejam muito ricas, as humanas estariam aquém dessa consciência. Gabeira perguntou a Marina sobre a necessidade de focar mais nas cidades um pouco “esquecidas” pelos ambientalistas. Marina disse que o tema era fundamental, já que mais de 80% da população moram nas cidades e estas podem ser sustentáveis, mas discordou de que seja um tema esquecido pelos ambientalistas. Lembrou que cerca de 84% da população não têm esgoto tratado e que essas questões devem fazer parte da agenda dos compromissos de um prefeito, assim como questões de mobilidade etc. “Hoje, tem muita gente buscando o apoio dos ambientalistas para ajudar a pensar a arquitetura, a agricultura etc. O meio ambiente não é mais o verde pelo verde e sim pensar a vida tanto no espaço urbano como em qualquer outro espaço”, disse.

Depois, os conferencistas responderam perguntas do público sobre o Pré-sal, sobre o ponto de alavancagem de uma nova economia e se a direção do ambientalismo deve ser da população para o governo ou vice-versa. O papel das empresas diante da crise do poder público, a corrupção e o novo modelo de desenvolvimento também foram questões trazidas pela plateia, encerrando assim, o segundo encontro da temporada 2013 do Fronteiras do Pensamento.
Fonte: http://migre.me/eVhbd



OBS.: Não encontrei referências sobre um comentário feito, durante o debate, de que, na época da ditadura, havia uma campanha a favor do progresso, cujo slogan seria algo como "Bem-vinda, poluição!". Alguém lembra disso?

Nenhum comentário: