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domingo, 21 de maio de 2017

Maria Bethania - Texto Ultimatum - Fernando Pessoa



Álvaro de Campos é um dos heterônimos mais conhecidos do poeta português Fernando Pessoa. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterônimos e declarou assim que Álvaro de Campos: Nasceu em Tavira da Serra Grande, teve uma educação exemplar de Liceu; depois foi para Glasgowsky, Escócia, estudar engenharia naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente Médio de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inatividade.

Ultimatum 

Mandado de despejo aos mandarins do mundo

Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma idéia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada
Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo
Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico
E saudando abstratamente o infinito."

Álvaro de Campos, em 1917

domingo, 26 de março de 2017

O que eu escolhi fazer ao findar o DOUTORADO

QUANDO ACABA O DOUTORADO, FAZ-SE O QUÊ?
Bem, para muitos é o momento da libertação dos grilhões acadêmicos, é um momento de glória que deve ser curtido com o descanso merecido; quiçá com uma longa viagem. #sqn
Eu tive férias, ao acabar o Doutorado e decidi ficar com meus pais.
Creiam-me! Nunca trabalhei tanto, mas nada disso me cansava...cansava o corpo, mas este agradecia. O que me deixava triste, acabada mesmo, de chorar às escondidas, era ver o quanto meus pais estavam com a saúde debilitada. Eles tentavam, mas as dores acabavam com eles.
Para impedir que trabalhassem além do que podiam, eu tentava ir na frente. Acordava às 6:00, deitava quando era possível; às 3h, às 4h, ou nem dormia. Um dia, deitei quando sabia que acordariam, assim iriam pensar que eu havia dormido a noite toda.
Era a casa, era a roça, a horta, o pátio, o jardim, as árvores, os gatos, os frangos, os peixes, a Luna - amada cadelona... tudo tinha de receber a devida atenção. Eram eles, principalmente eles, meus pais.
Com tudo isso, nas férias de janeiro e fevereiro, voltei para ficar com eles, pois sabia o quanto precisavam de ajuda. Meu pai precisou fazer a cirurgia da catarata (aplicar colírio a cada 2 ou 3 horas, dependendo da fase); mamãe fez cateterismo e milhões de exames...
E a maior dor deles era ver que o trabalho de um ano estava prestes a ser perdido. Ok!
Então, eu estou aqui para isso!
Que aprendizado, gente! Aprendi a fazer suco de uva, a fazer chimia/marmelada de figos, a plantar, colher, bater feijão, cultivar uma horta e tanta coisa mais.
Meu pai, cada vez que me via fazendo algo mais difícil dizia:
- Foi para isto que tu fizeste doutorado?
Minha mãe queria que eu descansasse. Que eu ajudasse, mas não exagerasse, e emendava ela:
- Olha como estou! Isso é fruto de tanto trabalho, assim como estás querendo fazer agora.
Quando acabaram-se as férias, papai falou:
- Acabou o teu estágio de doutorado! :-) :-*
Amado pai <3 span="">
Amada mãe <3 span=""> Oly Rosalina Favero
E as palavras dele ainda ecoam em mim:
- Não acredito que já estou com 84 anos! Passou tão rápido... e tem tanta coisa, ainda para ser feita. :-(
Pois é! A vida é breve. Por isso, deixemos mazelas e mimimis não resolvidos de lado. "Abracemos nossos pais, enquanto eles ainda estão aqui". <3 span=""> <3 span="">
A vida é um "trem bala"!
Este foi o presente que me dei pelo DOUTORADO.
Só hoje falo disso, porque me era difícil falar antes.
O vídeo tem uns 15 minutos, mas conta uma história, ou melhor várias histórias de vida entrelaçadas. ;-) (y)
Tomara gostem! 
Ps.: Não foi possível carregar o vídeo, devido ao tamanho. Excedeu o limite, mas este pode ser visto aqui: http://migre.me/wjLAk